quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O SOLDADO DE POLÍCIA

     Não se trata da expressão usada pelo Marechal quando se diz Soldado da Pátria, nem dos chamados desconhecidos, ganhando festivamente as flores da gratidão. Está masi próximo do soldado amarelo do velho Graça, que pisou no pé de Fabiano na feira de "VIDAS SECAS".
      Refiro-me ao soldado raso da polícia, o praça, sem galões, obscuro, sem comwendas e corbelha, a única autoridade nos longes do ser´ão, o que representa o poder, vem mais que o Presidente da República, pois que ele, na realidade, o é, ali, em quepes e reiúnas. Recebe todas as insatisfações do povo não pode vingar-se do responsável pela alta da carne, da farinha, do feijão, descarrega a fúria no que representa a Excelência. Daí o injustiçado, caluniado, despudoradamente chamado meganha. Niguém reflete sobre o seu dificil e importante papel na sociedade. Quem se lembra quando arrisca a vida, inghloriamente, sem ganhar as medalhas do heroísmo. Trabalha duramente nos antros do crime, nos prostíbulos, nas jogatinas, nas madrugadas violentas, enquanto dormimos, amamos ou gozamos as delícias do lazer. Exigimos dele o destemor na hora do perigo e a lhaneza do trato ao conduzir a velhinha na travessia da rua. Tem que ser um valente e um gentil. Queremos que tenha nervos de aço ante a gressividade dos bêbados grã-finos, cocainômanos de chambre, dos importantes do campo de futebol, assembléias e congressos. Precisa ser um jurisconsulto no instante de decidir se atira para matar ou arrisca a própria vida na dosimetria da legítima defesa. Não possui as condições tranquilas do juiz, cercado de livros e saberes, quando se encontra na luta contra assaltantes bem armados, enquanto porta um modelo 1908, mas tem que agir como umcriminalista. Todos podem alegar legítima defesa putativa ou subjetiva. O soldado de polícia, não. Pelo contrário. Não lhe socorre o direito de "julgar-se em situação de fato que, seexistisse, tornaria a ação legítima"Em qualquer hipótese, el será condenado. Se age com vigor é um violento; caso contrário, é um inoperante. E quem o julgará logo mais será o  cidadão sentado na cadeira de brlanço, lendo a notícia, sem risco, nem a emocionalidade do pipocar das balas. Nimguem se refere às inúmeras atitudes nobres desse cidadão durante a sua atividade pelas ruas, estreitas, feias e pequenas. Basta, contudo, que um deles fira uma norma da boa educação e lá vem o dedo em riste.
       Se aparece em qualquer lugar, incomoda. Se não aparece é um omisso. É um equilibrista sobre o fio imperceptível da moral, qualquer descuido o derruba para o lado do truculento ou incapaz. Conquanto, viva nos rastros dos ladrões, traficantes, precisando sempre, conviver com eles para impedir-lhes os crimes, cobra-se-lhes o comportamento de beneditino. Todos se esquecem que ser virtuoso em convento é fácil; sê-lo entre oe que vivem contra a lei é que é quase impossível.
         O soldado ganha uma iniquidade - mas dele se exige que as carências maiores do seu lar (a doença do filho, a nudez, o frio) não lhe amoleça a vontade do momento de estado de necessidade.
         O moralista, os impostores, os Varões de Plutarco obrigam-no a satisfazer seus próprios objetivos, violando a lei, perseguindo os fracos, usando a posição social ou política, mas é ele que paga a fama de perseguidor.
          Às vezes, injustamente, é confundido com marginal.
         Nasce na pobreza, dos escondidos das invazões, dos expulsos da terra, das sucatas humanas, das noites sem teto, das refeições de panela vazias, da disputa do punhado de farinha e da tigela de café preto. Carrega n1alma todos os estigmas da meninice: casas sem divisórias, mães abandonadas, viúvas, promiscuidade nas tarinbas, casebres queimados, ou escorridos nas enxurradas das encostas. Vêm da teimosia dos que não morreram na primaira infância. Dos que assistem ao banquete de poucos ao lado da extrema carência. Dos contrastes entre os bairros feericamente iluminados e os enlameados. Das distorções entre os que morrem de fome e os que fazem regime para emagrecer. Mesmo assim, exigimos dele comportamento de um embaixador do Itamaraty.
          Será que não estamos sendo injustos com os soldados de polícia, vigilantes da nossa tranquilidade?? Não precisamos quebrar o prconceito contra esse cidadão da ordem que encontramos na rua, consado da noite mal dormida para proteger nosso sono??
             Se nós nos encontramos nas situações de trabalho dele, faríamos ou seríamos melhores?? Como andaria a ordem pública se eles não existissem??
            Ele não é resultado da sociedade que todos nós somos???
                                                --- Euclides Neto ---
Reportagem extraída do Jornal - A TARDE de 12 de agosto de 1988, pagina 06.....

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